6.1.11

A carona

Ao Leo pela carona;
Ao Edu pelo incentivo à escrita.




Estava convicta de que o amor era coisa do passado. Já não era mais pra ela. Da mesma forma que deixamos de lado a boneca, acontecia agora com o sentimento.

Diferente do brinquedo abandonado por desinteresse em momento da vida que ultrapassamos o lúdico, agora, era o amor que passava por ela, atropelando em alta velocidade e a deixando para trás. Ali, sozinha, machucada e desolada, na beira da estrada coberta da poeira da mágoa.
Sentou-se assim no caminho por longo tempo - tempo esse que não se afere em nosso mortal sistema cronológico, mas em nossa medida interior. Aquela que nos ilude acabando num piscar de olhos o dia com os amigos e destinando-nos à eternidade numa fila de espera.
Sentada, esperou. Esperou dias e feridas e meses e dores. Esperou pensamentos e anos e esquinas e sangue. Esperou lágrimas. Esperou a si mesma.
Tormentas após, encontrou-se. Olhou-se e enamorou-se de si mesma novamente. Quando percebeu já estava de pé a caminhar. Na mesma direção que seguia anos antes.
Para sua surpresa um carro para e ouve uma voz doce a perguntar: "Quer carona? Parece que estamos indo para o mesmo destino."