5.12.06


Entediada, parada no sinal de trânsito, demorei a me dar conta da cena que se passava na rua: um bairro de subúrbio do Rio, calçada de areia, meninos brincando... Um dos garotos estava numa cadeira de rodas. Aparentava uns 6 anos. Magro, pele corada de Sol, e um enorme sorriso no rosto. Gargalhava olhando pro céu... soltava pipa!
O menino não andava, mas seu corpo moreno voava alto e livre com a pipa laranja. E via as ruas, os bairros e a vida de um perspectiva única. Visitava lugares a que nenhum par de pernas pode levar.
E era feliz, de um jeito simples.

19.11.06

Quando trabalho sou séria e decidida,
quando me contenho fervo,
quando danço enlouqueço,
quando amo derreto:
Sou forte, emotiva, indecisa, perdida, exultante, exuberante, disposta,
linda e pensativa...
Agora, tenho lembranças. Tenho saudades...
Toda melosa...
Agora, Sou Florbela...


"O NOSSO MUNDO

Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno
Poisando em ti o meu olhar eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos...

Os meus sonhos agora são mais vagos
O teu olhar em mim, hoje é mais terno...
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e presságios!

A Vida, meu amor, quero vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor!...As nossas bocas juntas!..."

Florbela Espanca

18.11.06


Tomar sol me deixa assim, meio devagar... Com o raciocínio lento, eu sei. Mas com uma tranqüilidade incrível, uma capacidade de observar os detalhes, os cheiros, os sabores. De ver em câmera lenta o rasante dos pássaros que bebem água na piscina, de ouvir chorinho e bossa nova e sentir que danço ali, estirada na cadeira... Lenta, rodopiante, sensual... E o sol me arde deliciosamente a pele. Mergulho: paz, silêncio, o mundo em câmera lenta... Minhas mãos, cabelos de sereia, reflexos da luz... Falta de ar! Respiro. Ahhhhh... E mergulho. O corpo volta a ficar vagaroso. Boa a sensação da água... E continuo assim, vendo tudo passar devagar.